sábado, janeiro 6

o meu romantismo mete-me nojo

Do que é que eu serei mais feita para além disto que sou? Pergunto-me várias vezes e ele responde-me várias vezes que sou feita do amor que sinto, dos leves pensamentos que passam por mim, do tempo que eu tento apanhar, dos sorrisos que ficam tatuados nas paredes do mundo. Eu não agarro nada, tudo passa com uma leveza simbólica, eu vou deixando ficar ou deixando ir. Não me importo, não quero saber mais do que não agarrei mas do que irei agarrar quando eu quiser. 
Ele diz que transbordo amores, e que os amores que eu amei farão parte da minha leveza. Eu amei. Eu fiz. Eu disse. Eu fui. É importante que acredite no que fui capaz de fazer e no que sou com base nisso. Vesti-me tantas vezes de nostalgias e dancei ao sabor do tempo. É mágico. É bom viver e reviver o que passou e o que continua a passar. Nada me obriga a fazer as malas de passados em cinzas, ao invés deixá-los ir com calma. Com a mesma calma que eles vieram quando ficaram tão presentes. É o segredo, acreditar. Acreditar que tudo tem a sua leveza e a sua simplicidade. 
Ele diz que é por tudo isto que às vezes deixa de doer. Não é. Ser leve não me faz deixar de sentir o que aperta, o que corta, o que tira o ar. Ser leve faz-me sentir tudo com a certeza de que passa. Se o tempo não congela quando nos levantamos, não pode congelar quando caímos. Se o tempo não congela quando sentimos amor, não pode congelar quando esse amor quiser abandonar o meu peito. O meu romantismo mete-me nojo. Mas dá-me certezas. Dá-me paz. Faz-me acreditar.

terça-feira, dezembro 19

um dia que sejamos maiores que o nosso amor

Procuras-me cá fora e aqui estou eu, de livro na mão e de cigarro na outra, deitada na cama de rede. Ao meu ouvido sussurras-me que a tua vida tem de ser feita sempre disto, de mim e da tua visão perfeita de quando me encontras. Abraças-me e ao mesmo tempo convences-me, no meio de gargalhadas matinais, que o teu olhar é fotográfico e que tens em ti todas as minhas fotografias de simples momentos que te fazem apaixonar. Como este. Enquanto te afastas, percorro atentamente com o meu olhar as linhas do teu corpo. És perfeito no meio de toda a tua imperfeição. Sobes as escadas da piscina, olhas-me como se já não soubesses que te observo. Mergulhas. A vida podia ser feita apenas disto, de nós os dois e deste amor. Mas não é. A vida é muito mais e o amor não pode ser só isto. Não é. Podia explicar-te que todas as tuas viagens deixam-me vazia por dentro, que todos os teus sorrisos deixam-me saudade e que os teus abraços aquecem-me a alma. Podia sentar-me nas tuas pernas e explicar-te tudo isto, ao invés vou amar-te mais um pouco no meu silêncio e observar-te todos os dias quando acordo ao teu lado. E o amor não é só isto, é enorme e nós ainda somos tão pequeninos dentro dele. As gôtas de água escorregam por todo o teu corpo. Arrepio-me. Fechas o livro que finjo ler, colocas-me nos teus braços e levas-me. Fazes-me acreditar que isto será eterno. Sinto a tua respiração a percorrer o meu corpo, olhas-me nos olhos, agarras-me no cabelo e decides amar-me. Existem momentos que podiam durar para sempre e este é um deles. Um dia que tudo isto termine, um dia que sejamos maiores que o nosso amor, quero que saibas que ninguém se pode minizar para caber seja onde for, mas o amor existe por mais pequeno que seja.