quarta-feira, outubro 21

corpos estranhos

Tentei apagar-te da minha vida com vários homens na minha cama. Tentei, sobretudo, esquecer-te. Passaram cinco anos e as minhas pernas ainda tremem quando te recordo. Sinto a falta do teu amor, desse veneno que passou nas minhas veias quase a minha vida inteira, que quase me matou em noites mal dormidas, em manhãs vazias e em finais de tarde mal resolvidas.
Tentei apagar-te das paredes do quarto onde trocávamos sonhos, agora arranhadas e manchadas de vinho - o vinho que me deste a provar e que odiei mas que há pouco tempo aprendi a gostar com a angústia de te ter perdido. Tentei remover dos meus dias as pequenas memórias, uma delas a imagem do fumo dos nossos cigarros a sair pela janela do quarto na madrugada em que decidimos recomeçar.
Tento encontrar-te nas pessoas que passam por mim, nas que ficam e naquelas que nunca mais vou ver, nos lugares cheios e nos mais vazios, até nos que nunca sentiram a nossa presença. O teu amor que quase me matou é hoje o veneno que entra em todo o meu corpo e faz-me querer chamar por ti, nas horas que nos marcaram, nos minutos que nos abraçaram, nos segundos que nos devoraram.
O cinzeiro da sala continua cheio de cinzas, as que eu deito quando me vens à memória; de metade de cigarros que apago quando me apercebo que devias desaparecer da minha cabeça. Um cinzeiro cheio de tudo, cheio de conversas, as que partilhava com os homens que tive na minha vida - todos eles acompanhavam-me neste vicio e todos eles sabiam de ti.
Desculpa se tentei matar-te com corpos e cheiros desconhecidos, com alguns orgasmos fingidos. Desculpa se vi neles uma fuga à ausência do teu ser. Desculpa se tentei ver neles a forma mais sincera de dizer a mim mesma que o meu coração já não te pertence, mas que te quer todos os dias.

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