O tempo ultrapassa os ponteiros do relógio e leva as merdas que aprendi a gostar: os dias felizes que me fizeram sentir viva, as pessoas que amei e até aquelas que podiam ter ido mais cedo, a bebedeira que me fez esquecer, o cigarro que me fez lembrar. Mas permanece tudo. Em mim, nos lugares e em ti. Tudo o que ele decide levar, continua agarrado a mim. Não porque sou obrigada a viver com, mas porque não faria sentido viver sem.
Gosto de memórias e gosto de sorrir para elas. Há quem me diga que não vale a pena alimentá-las. As memórias não se alimentam. As memórias são quadros que foram pintados por nós ou por quem nos ensinou a ser pintor do nosso tempo. Um tempo que por mais incompreendido, ou não, acabou por passar à frente dos nossos olhos. E teremos que saber viver com isso, com as voltas que nos deixam tontos e enjoados, com a rapidez do tempo que nos derrubou.
A nossa única solução é viver, é lembrar e esquecer, é ir e voltar - acabamos sempre por nos esquecer de alguma coisa, nem que seja de um abraço que ficou fora da nossa bagagem - e ir novamente. Ninguém me ensinou a viver depois de ti. Mas ensinaste-me que o maior segredo de um amor que acaba por morrer, é deixá-lo permanecer em silêncio dentro de nós. Guardá-lo com carinho. E saber viver com isso, e depois disso.
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