Pareceu-me que tudo acontecia fora do meu alcance. Senti-me atrasada no tempo, sentia-me longínqua do ar que respirava, da luz que atravessava os meus olhos. Sentia-me agarrada aos ponteiros do relógio para que o tempo não me perdesse. Ao longe via os meus sonhos, os meus desejos dissiparem-se pelo céu acima, acreditando agora que a vida pode-nos levar o que ainda não nos pertence. Duvidei sempre dessas palavras, vivi diante citações absurdas que me levaram a querer acreditar que a possível verdade das mesmas fosse realmente verdade. Mas não. Cada um vive com o que acredita, com o que nasce na alma de um ser constante.
Sempre quis escrever até morrer, sempre quis que estivesse presente o entender simples das pessoas quando digo que às vezes escrevo com a alma dos outros. As palavras fazem ainda mais sentido quando nos pertencem, sim é verdade, e são difíceis de construir quando olhas ao teu redor e apetece-te vestir por segundos a pele dos outros e é encantador quando o fazes em palavras. Um escritor não escreve apenas a sua própria realidade, mas também a dos outros como se fosse sua, como se fosse totalmente verdadeira.
Talvez tenha morrido quando destruí as asas que me faziam voar, quando fechei a mala e atirei-a para fora de mim, com tudo o que era. Talvez tenha morrido quando deixei o relógio parar por muito tempo, o que me fez duvidar da distancia a que me encontrava do que é verdadeiro e real, da vida em si. Talvez tenha mesmo morrido. Talvez tenha morrido quando fui alcançada pelo errado, quando me deixei apagar nos horizontes eternos, quando percorri o mundo de olhos abertos quando a vida também se desfruta de olhos fechados. Como um beijo.
Acreditei que poderia perceber-me indo para dentro de mim, ver os quadros mal pintados, os espelhos partidos e navegar nos mares mais turbulentos. Quis, sobretudo, que não houvesse horas desperdiçadas, minutos gastos pelo passar do tempo da falta de eu mesma. Mas a verdade é que o que faltou mesmo fui eu, eu e a minha estranha estupidez de alcançar tudo que me completa. Não o fiz. Preferi sentir a incompleta necessidade de alguma coisa que me queria. Preferi deixar no vazio as linhas mais verdadeiras que me uniam. Faltava o meu alcance. Faltava eu que me perdi no meio da claridade e da escuridão. Como um beijo.
Como um beijo.
Fui como um beijo.
Um beijo fora do meu alcance.
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